Considerada um dos grandes nomes da literatura brasileira, a escritora mineira Conceição Evaristo é entrevistada pela apresentadora Eliana Alves Cruz no programa Trilha de Letras desta quarta (15), às 22h, na TV Brasil. A atração inédita da emissora pública ainda fica disponível no app TV Brasil Play.
O papo exclusivo resgata o conceito de escrevivência, criado pela autora. Entre outros temas, ela aborda a memória, a importância de grandes figuras femininas na sua trajetória e a força da literatura como agente de transformação. O conteúdo tem uma versão transmitida pela Rádio MEC mais tarde, às 23h.
A autora faz questão de ressaltar o ineditismo do encontro. "Estamos vivendo uma fase que tem sido muito benéfica. É a primeira vez que estou em um programa de televisão sendo entrevistada por uma escritora negra", celebra.
O compromisso com o público que se interessa pelo que ela escreve é um dos temas em pauta. "Quem me confere o status de escritora não é o meu texto isolado. É a leitura na medida em que o livro é apropriado e lido. É quem está me lendo e se sente reduzido pelo meu texto", pontua.
Vencedora do Jabuti, Conceição Evaristo redigiu sucessos literários. Ela é autora de obras como os romances "Becos da Memória" (2006) e "Ponciá Vicêncio" (2003) e o livro de contos "Olhos d’água" (2014). Durante a produção, ela lê um trecho de "Canção para Ninar Menino Grande" (2022).
No quadro "Dando a Letra", espaço do programa que traz uma dica semanal de leitura, a booktuber Ad Novaes recomenda o título "Mariposa Vermelha", livro de fantasia redigido pela pernambucana Fernanda Castro para adultos. Repleta de reviravoltas, a sedutora trama oferece uma narrativa envolvente.
Oralidade e reconhecimento tardio
Durante a conversa informal na telinha da TV Brasil, Conceição Evaristo ressalta a oralidade presente em sua produção literária. "A oralidade é uma senha fundamental para a minha literatura e eu diria que é um projeto estético. Quero criar meu texto o mais próximo possível da linguagem oral", afirma.
Em sua obra, Conceição Evaristo desenvolve diálogos com base na gramática do cotidiano. Para a convidada, é preciso respeitar as diferentes formas de se apropriar da língua portuguesa. Com propriedade, a escritora defende a concordância semântica.
O programa abre espaço para ela esmiuçar a sua escrevivência. A contista, poeta, romancista e teórica fala sobre o conceito que se tornou objeto de estudo e um marco ao se referir à literatura que fala e se compromete com a realidade de uma mulher negra em uma sociedade profundamente desigual.
Nesta edição do Trilha de Letras, Conceição Evaristo abre o coração e comenta o reconhecimento, que demorou a vir. "Sempre duvidaram que nós tivéssemos capacidade de fala", critica, ao falar sobre os desafios impostos às mulheres negras.
Eleição de uma escritora negra para a ABL
Sobre sua relação com a Academia Brasileira de Letras - a mesma ABL que recusou sua candidatura ao posto de imortal com apenas um voto na polêmica eleição, Conceição Evaristo é franca. Ela celebra a entidade escolher, recentemente, o indígena Ailton Krenak para uma das cadeiras e pontua a tendência de abertura da centenária instituição aos novos tempos.
"A entrada do Krenak me deu uma esperança muito grande, uma satisfação, mas também uma sensação de dever cumprido. A minha candidatura, quando eu tive um voto, e o fato de ela ainda ser comentada, não foi um trabalho perdido", argumenta sobre a campanha que, em 2018, causou comoção popular.
Conceição Evaristo prossegue no raciocínio. "As pessoas ficaram muito frustradas, até mais do que eu. A candidatura obrigou a própria Academia a repensar. Incomodou a Academia. Eu não tinha essa intenção. O importante não é ser a primeira (mulher negra na ABL). O importante é abrir perspectiva", conclui.
Sobre o programa
O Trilha de Letras busca debater os temas mais atuais discutidos pela sociedade por meio da literatura. A cada edição, o programa recebe um convidado diferente. A atração foi idealizada em 2016 pela jornalista Emília Ferraz, atual diretora do programa que entrou no ar em abril de 2017. Nesta temporada, os episódios foram gravados na BiblioMaison, biblioteca do Consulado da França no Rio de Janeiro.
A TV Brasil já produziu três temporadas do programa e recebeu mais de 200 convidados nacionais e estrangeiros. As duas primeiras temporadas foram apresentadas pelo escritor Raphael Montes. A terceira, por Katy Navarro, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A jornalista, escritora e roteirista Eliana Alves Cruz assume a quarta temporada, que também ganha uma versão na Rádio MEC.
A produção exibida pelo canal público às quartas, às 22h, tem horário alternativo aos domingos, às 23h. O Trilha de Letras ainda vai ao ar nas madrugadas de quarta para quinta e de domingo para segunda, na telinha. Já na programação da Rádio MEC, o conteúdo é apresentado às quartas, às 23h.
Comentários
Postar um comentário