ÚLTIMOS

"Homem com H" estreia dia 1º de maio nos cinemas

Jesuita Barbosa interpreta Ney Matogrosso no filme “Homem com H”,  que acompanha a brilhante e intensa trajetória de Ney de Souza Pereira, desde a infância até a sua consagração como um dos maiores artistas brasileiros. Escrito e dirigido por Esmir Filho, o longa-metragem conta com Jullio Reis (Cazuza), Bruno Montaleone (Marco), Hermila Guedes (Beíta, mãe de Ney), Rômulo Braga (Antonio, pai de Ney), Mauro Soares (João Ricardo), Jeff Lyrio (Gerson Conrad), Carol Abras (Lara) e Lara Tremoroux, (Regina). A produção é da Paris Entretenimento e a distribuição, da Paris Filmes, com lançamento nos cinemas no dia 1º de maio de 2025.

Na infância e na adolescência, Ney morou com os pais e irmãos na pequena cidade de Bela Vista (MS). Os embates com o pai (Rômulo Braga), militar, que insistia que o menino “virasse homem”, o levaram a se afastar da família, antes de seguir na vida artística. “Toda a repressão que Ney sofreu do pai fez aflorar esse ser livre. Ele diz que muitas escolhas que fez na vida foram para contrariar a vontade do pai”, diz o diretor e roteirista Esmir Filho. Anos depois de sair de casa, Ney estreou em São Paulo como vocalista dos ‘Secos e Molhados’, ao lado de João Ricardo (Mauro Soares) e Gerson Conrad (Jeff Lyrio), dando início às performances históricas.

Ao retratar o período da ditadura militar, “Homem com H” mostra que a vida de Ney está conectada com a história de um Brasil cercado pela opressão, mas que aspira à liberdade. Resistindo a toda forma de repressão da família e da sociedade, Ney Matogrosso desafiou preconceitos e inaugurou um estilo próprio.

“Desde muito novo, eu escutava Ney e ele tirava a gente do lugar, seja sexualmente, seja musicalmente. Eu interpreto Ney dos 17 anos até quase 50 anos e pude ‘passar’ por esses anos todos trazendo essa energia latente dele, tão viva, tão intensa. O Ney tem uma integridade, uma ética e o filme mostra que tudo que ele escolheu e escolhe fazer é muito minucioso. Ele não faz nada que ele não quer", diz Jesuita Barbosa, que aparece em cena com os figurinos de referências animalescas de Ney, as maquiagens inspiradas no Kabuki - tradicional teatro japonês.

O filme também revela as paixões de Ney Matogrosso, entre elas Cazuza (Jullio Reis), um de seus grandes amores, e Marco de Maria (Bruno Montaleone), seu companheiro por 13 anos. A trama é embalada por sucessos como “Rosa de Hiroshima”, “Sangue Latino”, “O Vira”, “Bandido Corazón”, “Postal de Amor”, “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, “Encantado”, e, é claro, “Homem com H”.

Um dos destaques da produção é a recriação dos mais marcantes shows da trajetória de Ney Matogrosso, entre eles a primeira apresentação dos Secos e Molhados na Casa de Badalação e Tédio (1972); seu primeiro show solo, “Homem de Neanderthal” (1975);  “Bandido” (1976); e o show em que Ney canta “Homem com H”, dirigido por Amir Haddad (1981). As diferentes fases de Ney Matogrosso também são exploradas nas apresentações do Circo Tihany (1984); no projeto “A Luz do Solo” (1986) - com destaque para a canção “O Mundo é um Moinho”, de Cartola; em “O Tempo não Para” (1988), de Cazuza, dirigido por Ney; em “As Aparências Enganam” (1993); e em seu mais recente show, “Bloco na Rua” (2024). 

Ney Matogrosso visitou o set e colaborou com a produção, mas fez questão de não interferir em nada. Ele gravou especialmente para o filme a versão de “Mundo é um Moinho”, com violão de João Camareiro, e dublou Jesuita Barbosa na cena do coral de Brasília e também na música “Réquiem para Matraga", com Luli. Todas as outras músicas são fonogramas do Ney dublados por Jesuita.

"Sou feliz por ser a pessoa que sou e por fazer o trabalho que eu faço - tenho muito prazer com isso, ainda gosto muito. Isso aqui [o filme] é uma pedra a mais nessa construção. É a primeira vez que eu vou me ver numa tela. Já atuei, já me vi em documentários, mas nunca um filme de ficção. A obra vai contar a minha vida inteira - é claro que não vai caber a vida toda, é impossível porque a vida de ninguém cabe em uma ou duas horas. Mas eu sei que é uma opção da direção e do roteiro, um ponto de vista, e eu fico feliz de estar por perto para poder ajudar ao máximo, e para que seja o mais compatível com a minha história", disse Ney, durante as filmagens.

“Homem com H” teve o apoio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio, por meio do edital de Cash Rebate de 2023.


Assista ao trailer aqui.


Sinopse:

"Homem com H" revela os momentos mais marcantes da vida de Ney Matogrosso, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos. Desde a infância marcada pela repressão paterna até a consagração como ícone da música e da liberdade, Ney desafia preconceitos e cria um estilo próprio. O filme acompanha sua trajetória pessoal e artística, retratando performances inesquecíveis embaladas por sucessos como "Rosa de Hiroshima", “Sangue Latino”, “O Vira”, “Bandido Corazón”, “Postal de Amor”, “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, “Encantado”, e, é claro, “Homem com H”.


ELENCO:

Jesuíta Barbosa - Ney Matogrosso

Jullio Reis - Cazuza

Bruno Montaleone - Marco de Maria

Rômulo Braga - Antônio (pai)

Hermila Guedes - Beíta (mãe)

Mauro Soares - João Ricardo

Jeff Lyrio - Gerson

Danilo Grangheia - Eugênio

Augusto Trainotti - Soldado Cato

Bela Leindecker - Luli

Caroline Abras - Yara Neiva

Regina Chaves - Lara Tremouroux


PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS:

Céu como Elvira Pagã

Sarah Oliveira - repórter Fátima


FICHA TÉCNICA:

Direção: Esmir Filho

Roteiro: Esmir Filho

Produzido por: Márcio Fraccaroli, André Fraccaroli, Veronica Stumpf

Produtor Associado: Rodrigo Castellar

Produção Executiva: Rodrigo Castellar, Mariana Marcondes

Direção de Fotografia: Azul Serra

Direção de Arte: Thales Junqueira

1º Assistente de Direção: Kity Féo

Figurino: Gabriella Marra

Caracterização: Martin Trujillo

Montagem: Germano de Oliveira

Som Direto: Ana Penna

Edição de Som: Martin Griganaschi

Mixagem: Armando Torres Jr, ABC

Supervisão Musical e Música original: Amabis

Produção de Elenco: Anna Luiza Paes de Almeida

Direção de Produção: Karla Amaral

Produção:  Paris Entretenimento

Produtores Associados: Rodrigo Castellar, Adrien Muselet, Esmir Filho

Distribuição: Paris Filmes

Coprodução: Claro

Apoio: Riofilme

Classificação: 16 anos. Duração: 130 minutos.


ENTREVISTAS


ESMIR FILHO | DIRETOR E ROTEIRISTA

1- Entre curtas e longas, a sua filmografia conta com muitos filmes independentes. Agora, você assume o desafio de retratar um biografado de peso, Ney Matogrosso, em uma grande produção cinematográfica. Como foi a transição entre os dois universos e o que te atraiu neste projeto?

O projeto me atraiu justamente por abordar temas que eu venho pesquisando e elaborando desde que comecei no audiovisual: o desejo, a pulsão dos corpos, a expressividade artística, o respeito pela diversidade e os relacionamentos afetivos e familiares como centros acolhedores. Conheci Ney Matogrosso quando eu era pequeno e lembro dele ter me causado algum espanto. Não porque eu achava que ele era diferente de mim, mas justamente porque em algum lugar nossos íntimos conversavam. Escrever e dirigir essa jornada de liberdade e afeto com um protagonista que combate imagens de controle e figuras de autoridade que ousam tentar reprimi-lo foi uma forma de me libertar também. Há nãos que vem para o sim! Aprendi muito com Ney durante o processo e a realização do filme fez com que nos aproximássemos.

2- Nos seus trabalhos anteriores, você estabelece relações do cinema com a música, dança e teatro. Agora, em 'Homem com H', esse engajamento com as outras artes também é evidente. Como você enxerga esse diálogo entre diferentes formas de expressão e como usou disso para construir seu novo longa?

Ney Matogrosso é um multiartista: ator, cantor, pintor que criou a própria maquiagem, artesão que produziu roupas e acessórios. Ney também foi além da palavra quando usou o corpo e o visual para se expressar. Portanto, foi natural na cinebiografia que eu estabelecesse um diálogo com a música, dança e teatro. Eu acredito muito que a experiência artística é alimentada pelo trânsito. Além de cinema, também já realizei peças de teatro, videoclipes, performances e shows. Acho que tudo está interligado no meu trabalho. No cinema, a música sempre esteve presente nos meus filmes, desempenhando um papel importante. “Os Famosos e os Duendes da Morte” é todo calcado na letra da canção “Mr. Tambourine Man”, de Bob Dylan. Em “Verlust”, a compositora e cantora Marina Lima atua para as câmeras enquanto vive uma narrativa fictícia por trás do seu disco “Marina Lima”. Com a cinebiografia de Ney Matogrosso, isso se expande. Cada música foi escolhida a dedo e dialoga com o que Ney está vivendo no momento, ele canta o que sente. Fiz questão de que a trilha acompanhasse cronologicamente sua trajetória. Cada canção espelha a alma desse artista performático que se apropria da letra da música e amplia o significado da canção quando se coloca em cena, em uma experiência que torce os sentidos. Cada gesto evocado por Ney revela tudo que é dito através do não dito. O palco é, portanto, um lugar onde Ney investe sua energia física e entra em comunhão com as pessoas. É onde ele cria intimidade com a música e descobre seu potencial com o público. Por isso, eu escolhi retratar no filme cerca de 10 apresentações de Ney (na pele de Jesuita Barbosa) em shows, videoclipes, performances. O teatro já estava inserido na história e a dança mais ainda.

3- Como foi a troca com o próprio Ney Matogrosso no processo de criação do universo de ‘Homem com H’? Quais as vantagens e desvantagens de ter acesso ao biografado?

Estar próximo de Ney só me trouxe vantagens. As conversas com ele na fase de desenvolvimento foram cruciais para que o filme ganhasse força e textura. A cada tratamento de roteiro que Ney lia, novas camadas eram acrescentadas. Em uma das versões, por exemplo, ao ler que quando criança corria pelo mato nos fundos de sua casa na Vila Militar, Ney apontou: "Eu não corria, eu andava, explorava! Sempre curioso, atento a tudo". São detalhes preciosos como estes que colaboraram para a construção do ritmo e tom de cada cena. Ney tem uma memória surpreendente, lembra de tudo com precisão. Mas é claro que também havia lacunas, coisas esquecidas pelo tempo. Ele me concedeu a liberdade de recriar algumas situações no roteiro que provocassem sensações análogas às vividas por ele, preenchendo as lacunas de memória com simbolismo e poesia. O reconhecimento veio em um telefonema quando, após ter lido uma versão do roteiro, ele me disse: "Tem falas ali que não sei se eu disse, mas bem que eu poderia ter dito!" Para mim, era o sinal de que eu estava alinhado com o pensamento de Ney.

4- Ney Matogrosso teve uma vida rica em experiências nas suas diversas fases. Na função de roteirista, como você estabeleceu o recorte do filme? Quais acontecimentos da vida de Ney você priorizou e trouxe em destaque no roteiro?

Não há vida inteira que caiba dentro de um filme. Por isso, eu precisava de um recorte. Pensei primeiro em alguma época específica. Gosto de cinebiografias que se passam em poucos dias e você compreende a dimensão do artista. Mas com Ney era diferente. Sua história de vida era digna de uma jornada do herói, aos moldes de Joseph Campbell. Ao trabalhar Ney como personagem na ficção, procurei pensar em como apresentar seu universo, estabelecer sua jornada, acompanhar sua luta contra as forças do antagonismo que o pressionam gradativamente, mostrando quem ele é através das escolhas que ele faz. Mas eu precisava de um ponto de partida. E o estalo deu quando li um trecho que me chamou a atenção no livro de memórias “Vira-Lata de Raça”, onde ele diz: “A maior autoridade que enfrentei na vida foi meu pai, o Sargento Matto Grosso. E todas as escolhas que eu fiz foram para contrariar a vontade dele”. O pai de Ney era militar e a última coisa que ele queria era que o filho se tornasse um artista. A vontade de contestar o pai foi tão forte a ponto de impulsionar seu caminho. Esse então foi o recorte, a relação problemática de Ney com o pai, da infância até sua morte, e como isso reverberou em sua carreira e em suas relações afetivas. No filme, as imagens de controle - representadas pelo pai, aeronáutica, ditadura, censores, imprensa, empresários, sociedade preconceituosa e moralista - servem como obstáculos para Ney de Souza Pereira. À medida que os atravessa, ele se rebela, dá as costas ao sistema, escolhe ficar à margem, aperfeiçoa-se no artesanato, pintura, voz e interpretação. Adota o sobrenome do pai Matogrosso em um resgate simbólico do que lhe foi negado. E sobe no palco, a fim de se libertar através da performance.

5- Como realizador e artista, quais os principais desafios em dar identidade própria a uma obra baseada em um ícone tão conhecido da música brasileira?

O maior desafio foi traduzir Ney Matogrosso para o cinema. A linguagem do filme tinha que seguir a estética da subversão que espelha o espírito livre de Ney. Sempre quis que as pessoas saíssem do filme com a sensação de terem assistido a um show do Ney — com o bônus de irem com ele para casa, conhecerem sua intimidade e sentirem seu perfume. Mas acredito que foi na escolha do recorte que eu me encontrei. A história de vida de Ney atravessou a minha em vários momentos. Me identifico com seu pensamento, sua postura, a relação com o corpo, o combate à caretice, a experiência com a natureza, a sensualidade, sua entrega aos relacionamentos afetivos. Eu me vejo ali de diversas formas. E é isso que me aproxima da obra também, muita coisa veio de dentro para fora. Um exemplo são algumas falas que foram criadas a partir da minha vivência, visto que Ney não se lembrava de tudo que foi dito. E assim, das lacunas de memória, fez-se o diálogo. É bonito pensar nessa cinebiografia como o olhar de um artista sobre a vida de outro.

6 - Como foi o trabalho com o elenco e equipe? Quais seus próximos projetos?

Foi maravilhoso poder dialogar com profissionais tão sensíveis e talentosos. A ousadia de Thales Junqueira (arte), o olhar sensível de Azul Serra (fotógrafo), o preciosismo de Martin Trujillo (caracterização), a dedicação de Gab Marra (figurino), o cuidado de Germano Oliveira (montador) e a entrega de Jesuita Barbosa (ator). E isso vale para todos que trabalharam com tanto amor e afinco nesse projeto. Ser da mesma equipe é rir das mesmas coisas, é não precisar “explicar-se”, é ter no silêncio um consenso. Eu só consigo trabalhar a partir do diálogo, cada um colaborando com seu olhar e levando a linha do pensamento mais longe. Costumo dizer que não existe cinema sem equipe e elenco. Cinema é um delírio coletivo. Todos juntos com seus vetores de desejo apontados para a mesma direção. Existe uma força inventiva que nos une, nutrida pelo desejo do que está por vir e que nos transforma levando para outro lugar. Não está no que vai ou pode acontecer, mas no que nos move. É uma jornada incerta, onde nosso desejo experimenta. Estabelecemos um diálogo entre a vivência e a experiência de recriá-la. Se “cinema é cachoeira”, como disse Humberto Mauro, somos gotas d’água tragadas por um fluxo que desemboca naqueles que querem se banhar. A narrativa nos atravessa, nos transborda e deságua sobre o público. No final, o filme na tela é dos outros, nosso é o processo. Enquanto diretor, eu me vejo como um canal através do qual os outros se fundam. Sou o responsável por lançar meios de orientação e estimular a potência do talento de cada um, buscando um sentido. Sobre próximos projetos, agora me preparo para dirigir uma série documental sobre música que idealizei junto com minha irmã Sarah Oliveira. Ela apresenta, entrevistando grandes nomes da música brasileira.


JESUÍTA BARBOSA | ATOR (NEY MATOGROSSO)

1- Interpretar uma figura real por si só é um desafio e frequentemente gera comparações entre o ator e o retratado. Como você imprimiu sua identidade em um personagem que, além de único, é tão presente no imaginário do povo brasileiro?

Esse filme cria um comparativo muito forte porque estamos lidando com uma figura que já faz parte do imaginário nacional: o Ney Matogrosso. É um artista que se tornou referência em liberdade – liberdade do corpo, do canto, da expressão. Então, houve em mim um grande interesse em pesquisar, em me aproximar do que ele possibilitou e ainda possibilita ao país enquanto artista libertário.

Ao mesmo tempo, havia também o desejo de dividir algo meu nesse processo – e digo isso num sentido íntimo, pessoal, sobre a forma como fui lidando com cada cena. Minha memória emotiva esteve muito presente. Minhas relações interpessoais, familiares, tudo isso atravessou a construção desse personagem. Acho que o filme nos trouxe essa possibilidade de coexistência: o Ney, enquanto figura central, biográfica, e eu, enquanto artista de hoje, com minha própria vivência e identidade.

E acho que a discussão se inicia aí: vivemos hoje uma descentralização da ideia de real – o que é verdadeiro, o que é fake, o que é imagem, o que é reprodução, o que é inteligência artificial. O filme também dialoga com isso. Ele escancara a necessidade que temos, como sociedade, de rediscutir esses conceitos, e não apenas criar comparações.

A criação do Ney é única. Ela não deixa de existir em momento algum, porque é diferente de tudo. Ele criou algo tão próprio que virou um marco na nossa memória coletiva. E eu, pessoalmente, sempre lembro dele de um jeito muito particular. Acho que isso acontece com todo mundo que acompanha e gosta do trabalho dele.

Tivemos a oportunidade de nos encontrar algumas vezes, o que foi muito importante pra mim. Ouvi-lo, saber quais histórias ele queria contar, quais ele gostaria que fossem contadas, foi um presente. Mas também me interessei pelas histórias que ele não quis contar. Sempre com muito respeito e admiração, claro – mas existe um mistério no Ney, na maneira como ele fala de si mesmo, que também nos deixa espaço pra imaginar.

Acho que o filme abraça esse mistério. Tanto no que é retratado dramaturgicamente quanto no que eu pude trazer do meu imaginário – das histórias que talvez também pudessem fazer parte. Espero que isso tenha aparecido na tela: esse lado do não dito, do que fica no ar, que o Ney também representa.

2- Ney Matogrosso sempre foi exaltado por ser um intérprete memorável e por sua atitude desafiadora. No filme, a linguagem corporal é um elemento importante da sua atuação como Ney. Quais foram os principais desafios da parte física? Teve algo que você não sabia fazer e precisou aprender?

A gente trabalhou muito com o Cris Duarte, que é um excelente profissional – hoje considero um amigo e admiro imensamente. Trabalhamos juntos o corpo do Ney. Desde o primeiro dia, o Cris já chegou com uma presença muito parecida com a dele, com uma fisicalidade que se aproximava bastante. Ele acabou virando uma referência pra mim. Eu olhava pra ele e já conseguia captar algo – talvez por um jogo de imitação, mas não só isso.

O mais importante que o Cris trouxe foi esse ponto de partida no meu próprio movimento. Antes de tentar copiar qualquer coisa, a gente buscou o que era meu, o meu corpo, o meu jeito. A partir disso, começamos a construir uma semelhança com os movimentos do Ney – o que não é uma coisa fácil, porque o Ney tem uma desenvoltura física extremamente preciosa. É algo muito único, muito dele.

Nos ensaios de corpo, de caminhada, dos momentos de show, o Cris conseguiu me deixar à vontade. E a partir dessa base sensorial, de percepção mesmo, a gente conseguiu chegar numa aproximação com o Ney – e também em algumas diferenças, por que não? 

3- “Homem com H”, antes de tudo, trata de muitas questões inerentes à masculinidade e as expectativas sociais que se tem sobre esta. Como você acha que o filme contribui com as discussões atuais sobre masculinidade e o que os homens, principalmente, podem aprender 

O filme já chega com esse título,”Homem com H”, que é importante por si só. É o nome de uma música muito conhecida do Ney, um grande sucesso, e que já traz uma expressão forte, uma indagação: o que é, afinal, um homem com H? Desde a época em que foi lançada até hoje, essa pergunta segue ressoando. E o Ney, ao cantar isso, leva a expressão para um outro lugar, para outras camadas de significado e possibilidades de resposta.

Acho que o filme, ao atravessar tantas décadas da vida do Ney, permite que a gente também acompanhe uma evolução do pensamento social. A trajetória dele abre espaço pra que a gente pense a identidade de forma mais livre, mais possível. O Ney abre um portal mesmo – para discussões, para teorias sobre o que é expressão, o que é identidade, o que é liberdade do corpo, liberdade de existir. Mas sem, em nenhum momento, que se discuta a integridade desse artista enquanto criador. Acho que esse é um lugar importante de lembrar, porque o Ney sempre colocou o trabalho dele nesse lugar íntegro, de não deixar que essa sinceridade com o pessoal se misturasse com uma discussão ignorante sobre quem ele é.

Hoje em dia, a gente ainda discute e estigmatiza muito os corpos. E acho que o Ney soube lidar com isso de uma forma muito firme. Ele não se deixou abalar por esses olhares ou julgamentos. Pelo contrário: sempre colocou a integridade dele na frente, com muita clareza sobre quem ele é e sobre como queria viver e se expressar no mundo.

4- Como foi a troca com o próprio Ney Matogrosso no processo de criação do protagonista de “Homem com H”? Quais as vantagens e desvantagens de ter acesso ao biografado?

É muito vantajoso poder ouvir as histórias do Ney, poder olhar pro corpo dele, pra forma como ele se movimenta. Ter acesso às coisas dele, poder visitar a casa, ver os objetos, as referências, as memórias que ele guarda... tudo isso foi fundamental pra mim. O Ney é uma figura muito generosa. E acho que aprendi muito também com o silêncio dele. Me interessava ouvir o que ele dizia, claro, mas foram as pausas que criaram a “música” que eu queria captar na identidade dele.

5- O filme retrata Ney como uma personalidade que inspira muito afeto e aborda alguns relacionamentos importantes que o artista teve em sua trajetória. Como você e os demais atores do elenco se prepararam para criar esse nível de afeto e intimidade em tela?

A gente teve um processo longo de ensaio e preparação. O elenco é grande, com muitos atores e atrizes, e a gente pôde se encontrar várias vezes junto com o diretor, o Esmir, e com os ensaiadores. Foi um processo criativo, necessário, que ajudou muito a construir esse nível de afeto e intimidade que aparece no filme. Fico feliz de ter participado, porque acho que o cinema precisa mesmo desse tipo de processo – ainda mais quando se trata de retratar alguém que está vivo e ainda está criando.

A gente precisava contextualizar a história, entender o que realmente aconteceu e também o que ainda acontece na vida do Ney. Mas, além disso, esse tempo de preparação serviu pra que a gente se conectasse de verdade, criasse vínculos entre nós. Essa intimidade entre os personagens foi construída ali, nesses encontros, e acho que isso transparece na tela.

6- Você interpreta diferentes fases de Ney, desde a juventude até a maturidade, passando por shows marcantes e momentos desafiadores. Como o Esmir Filho te conduziu por essas diferentes fases e como foi a troca de vocês no set?

Foi muito importante ter o Esmir conduzindo tudo da melhor forma, tão cuidadosa e afetuosamente.

7- Como foi o trabalho com elenco e equipe? Quais seus próximos projetos?

Sobre os próximos projetos, eu estou fazendo teatro, porque sinto que, nesse momento, é a melhor forma de me reencontrar como artista e com outros artistas. Acho que a gente precisa discutir o que é realidade em cima de um palco, dentro de uma caixa cênica.


JULLIO REIS | ATOR (CAZUZA)

1- Você interpreta Cazuza, um personagem inspirado em uma figura real que até hoje é muito amada e respeitada pelos brasileiros, além de já ter sido retratada em outros filmes. Como você encontrou o “seu” Cazuza e o que você gostaria de transmitir com esse novo recorte do cantor?

Desde o começo do projeto, em conversas com o Esmir, procuramos aprofundar esse Cazuza a partir do próprio Ney. Então a troca que tivemos com o Esmir foi importante para a construção dessa figura tão irreverente e que habita nosso imaginário até hoje como alguém eloquente, seja na intensidade das letras ou na forma de viver a vida. A partir disso, trabalhamos muito no aspecto da doçura e gentileza também, que era algo que o Ney descrevia com frequência. Ney dizia que Cazuza não era “só” aquele vulcão em constante erupção, mas também um ser humano extremamente afetuoso e carinhoso, o que serviu como um ponto de partida para encontrar o Cazuza. O que eu gostaria que as pessoas percebessem é esse Cazuza amoroso, com olhar doce cheio de afeto, trazendo pra perto no toque, nas palavras, sem perder toda energia ariana que corria nele.

2- O filme retrata Ney como uma personalidade de muito afeto e aborda de forma íntima a relação do cantor com Cazuza, que também era uma figura pública. Como você e Jesuita trabalharam para construir em tela os aspectos públicos e privados do relacionamento? Como você e os demais atores do elenco se prepararam para retratar a intimidade de forma tão natural?

Digo que meu encontro com Jesuita foi tão natural que nem racionalizamos muito como iríamos transmitir isso na tela. A gente viveu com muita verdade e, quando isso acontece, fica mais leve. Tínhamos recortes de momentos reais que aconteceram e procuramos vivê-los da forma mais natural possível, sem pensar no aspecto público ou privado das situações e sem se apegar tanto ao concreto. A gente entendeu rápido o que foi a relação dos dois, que era além do sexo, da carne, era de alma mesmo. Tivemos uma preparação maravilhosa onde trabalhamos as cenas, o que trouxe mais segurança também.

3- Seu personagem passa por diversas transformações, especialmente no aspecto físico, por conta da AIDS. Como foi retratar esse período difícil da vida de Cazuza?

Tivemos um tempo pra eu me preparar tanto fisicamente quanto psicologicamente, porque começamos a gravar o Cazuza pela fase final. Na preparação e no aprofundamento do tema você vai entendendo tudo o que aquele corpo viveu, todas as angústias, os medos, o tornar público a doença, a ira… tudo isso vai ganhando um peso gravitacional muito grande pra construção de um personagem como ele. O Cazuza sempre foi corajoso e destemido na vida, e desde o momento em que ele decidiu abrir publicamente sobre ser soropositivo também, pareceu reconhecer de forma clara as limitações sem desanimar, sem deixar de ser o que ele era. Acho que o Cazuza jamais iria querer ver alguém retratar esse momento dele de forma depressiva, então procurei preservar toda essência dele e deixar a doença estar mais no aspecto físico do que no mental.

4- ‘Homem com H’, antes de tudo, trata de muitas questões inerentes à masculinidade e as expectativas sociais que se tem sobre esta. Como você acha que o filme contribui com as discussões atuais sobre masculinidade e o que os homens, principalmente, podem aprender com a obra?

A figura do Ney já carrega em si uma carga enorme para o debate sobre o que é ser masculino na sociedade em que vivemos. O filme traz essa mensagem como um soco no estômago, porque a gente vê o Ney existindo com coragem dentro de diversas relações com homens da vida dele, principalmente com o pai, onde existe um choque sobre o que é ser ou não masculino e toda expectativa tóxica relacionada ao habitar esse corpo. O filme tem esse apelo forte quando escancara a possibilidade de existir em diversas relações sem o peso colocado pelos outros, da potência do que é ser um homem vulnerável sem precisar ser o tempo todo forte e rígido, de falar o que sente e ser o que se é sem medo, de mostrar o corpo masculino além dos estereótipos, já tão ultrapassados. Nós homens podemos aprender que ser homem não é sinônimo de força ou dureza, não é ser uma parede de aço onde não passa nada e se internaliza tudo, e sim que falar é libertador, e que existem infinitas possibilidades para dar vazão, seja no canto, na performance, na escrita, e principalmente nas relações em que vivemos.


BRUNO MONTALEONE | ATOR (MARCO DE MARIA)

1- Seu personagem, Marco de Maria, foi companheiro de Ney Matogrosso por 13 anos. Quais características desse amor mais te chamaram a atenção e o que você quis destacar no seu recorte em tela?

Eu fiquei me perguntando o que em Marco fez Ney querer ter essa vida a dois, com longevidade… O meu palpite é de que estariam juntos até hoje! Acho que o que tentamos passar pro público é esse amor lindo que eles viveram e que muita gente sequer sabe que existiu. É uma história linda, um encontro de almas que pareciam saber que estavam destinadas a ter uma parceria, algo de outras vidas. Tentamos mostrar, por exemplo, como Ney se divertia com o espírito jovem e ingênuo do Marco. Como o lugar da experiência e do “novo” podem funcionar bem numa relação. Enfim, estamos falando de uma linda história de amor e parceria.

2- No contexto de sua luta contra a AIDS, Marco de Maria passa por algumas transformações físicas. Como foi retratar esse período difícil da doença de Marco?

Certamente difícil. Eu tive a grande sorte de ter o Ney no set durante as gravações em que o Marco já estava mais doente. Ele me deu informações valiosas de momentos que passaram juntos durante esse processo. Claro que é muito triste ver uma pessoa amada passar por esse processo doloroso, mas é inspirador ver também que a parceria e o amor se sobrepõem a essa situação. Cuidar é uma das maiores demonstrações de amor, e eles sempre cuidaram um do outro. Mas sem dúvida: a atmosfera dessas cenas, em específico, tinha uma carga densa, chamando a atenção para a fragilidade da vida.

3- O filme retrata Ney como uma personalidade que transborda afeto e mostra de forma íntima a relação do cantor com Marco. Como você e Jesuita se prepararam para retratar a intimidade desse casal? Como foi a troca entre vocês?

O filme combinou uma história que merecia muito ser contada e um roteiro maravilhoso, então, existia um caminho claro a ser seguido e o texto muitas vezes já nos dava tudo que a gente precisava. Ainda assim, o Esmir (nosso diretor) e Roberto Audio (amigo amado e preparador) estiveram conosco nesse processo e apoiaram criações nossas para trazer veracidade para essa relação na busca por transmitir o amor dos dois, que transbordava. Jesuíta é um baita ator e sempre esteve muito dentro do processo desde que nos esbarramos pela primeira vez no teste. Tudo isso fez o nosso trabalho ficar mais fácil.

4- ‘Homem com H’, antes de tudo, trata de muitas questões inerentes à masculinidade e as expectativas sociais que se tem sobre esta. Como você acha que o filme contribui com as discussões atuais sobre masculinidade e o que os homens, principalmente, podem aprender com a obra?

Acho que o filme é oposto a tudo que significa uma masculinidade frágil baseada em seguir padrões comportamentais na busca de status, poder ou aceitação. É muito bonito celebrar uma pessoa de tamanha personalidade, que mesmo em tempos difíceis não se curvou às aparentes imposições da vida e não foi moldado pelas expectativas de uma sociedade, em grande parte, preconceituosa. Ele é mais que um ícone da nossa música, é um símbolo de liberdade e resistência. Uma pessoa inspiradora e, mais que um artista de ofício, um artista de alma.


RÔMULO BRAGA | ATOR (ANTÔNIO, PAI DE NEY)

1- Você interpreta o pai de Ney, personagem que mescla momentos de explosão e autoridade com momentos mais dramáticos e sensíveis. Como foi a sua preparação para viver um personagem com tantas camadas e representar uma pessoa que existiu? Onde você buscou referências para representar a relação dos dois?

Em primeiro lugar, tive acesso aos livros "Ney Matogrosso: A Biografia", de Júlio Maria, e "Vira-Lata de Raça - Memórias", do próprio Ney. A partir de então busquei pontos de identificação da relação dele com o pai dele e da minha relação com meu pai. É bonito visitar esse ponto de singularidade e depois ampliá-lo. Eu queria criar essa afetividade ao avesso, ou seja, queria de fato entender o lado do meu pai, ou melhor, de um pai arquetípico que tinha nascido em 1918, que tinha crescido naquele Brasil. Queria entender principalmente seus medos e fragilidades e o porquê de uma resposta tão violenta ao contraditório. Esse passo de entendimento foi importante porque este pai se transforma a partir do seu oposto mais bonito e mais resistente: seu filho Ney.

2- Uma das cenas mais marcantes do filme é a discussão entre Antônio e Ney. O embate segue ao longo do filme, de forma mais silenciosa e velada. Como foi trabalhar com Jesuita Barbosa, criando momentos de tensão, mesmo que discreta? E como foi contracenar com Hermila Guedes?

Trabalhar com Jesuita e Hermila foi como estar com dois gênios,  duas gentilezas em pessoa. Jesuita é um talento incrível, muito comunicativo e aberto ao jogo cênico. Com a Hermila, aprendi a sonhar em ser ator de cinema lá no início de tudo. Quanto privilégio o meu.

3- Antônio representa os padrões da época de virilidade, masculinidade, força física. Como você acha que o longa contribui com as discussões atuais sobre masculinidade e o que os pais, e homens em geral, podem aprender com a obra?

Percebo que o Ney conseguiu quebrar essa bolha durante toda a sua carreira. Qual homem hétero conservador não se deliciou com a explosão e beleza dos Secos e Molhados na juventude? De alguma maneira, o Ney já embalou os sonhos de amor não correspondido de qualquer coração… Espero que a mensagem seja comunicada de uma maneira afetiva, aguerrida, insistente, resistente e violentamente amorosa.


HERMILA GUEDES | ATRIZ (BEÍTA, MÃE DE NEY)

1- Você interpreta Beíta, a mãe de Ney, que segue como sua apoiadora e confidente até hoje. Como foi a sua preparação para viver a personagem?

A produção junto com a direção me disponibilizaram um material de pesquisa, uma biografia do Ney, escrita nos anos 90, onde me foi passado um trecho do depoimento da própria Beita. Assisti também ao documentário “Olho Nu”, sobre a vida e carreira do Ney Matogrosso. Além disso, Esmir Filho nos deu a liberdade para fazer uma interpretação que partisse do nosso olhar sobre a personagem. É sempre um desafio contar a história de pessoas e fatos reais, mas ao mesmo tempo me sinto feliz em dar minha contribuição como atriz a projetos como esse.

2- Beíta se encontra no meio dos conflitos entre Antônio e Ney, protegendo o filho dos preconceitos do marido. Como foi estar neste lugar ocupado por muitas mães na época e ainda hoje? E como foi a dinâmica com Jesuíta Barbosa e Rômulo Braga no set?

Foi como vivenciar a mais genuína representação cultural da maternidade. Beíta é uma mãe protetora, amorosa, que protege a todo custo a felicidade do seu filho. É bom poder ver essa mãe em momentos diferentes da vida do Ney no filme. A caracterização maravilhosa da equipe de Martin Trujillo e toda direção de figurino me ajudaram muito na construção dessa personagem. Rômulo Braga e Jesuíta Barbosa são dois grandes parceiros de cena. São atores de muita entrega e talento. Foi maravilhoso dividir cenas com eles.

3- Apesar de manter a família nos moldes tradicionais, Beíta vai contra o comportamento agressivo de Antônio ao acolher o filho, demonstrando seu carinho e admiração pela obra de Ney. Quais características de Beita mais te chamaram a atenção? O que você mais admira nela e o que vocês têm em comum?

Mães como Beíta são inspiradoras, a grande referência do feminino para o Ney Matogrosso, acredito. 

Beíta também me chamou atenção por ser uma mulher bem à frente do seu tempo, tendo que ter embates decisivos na vida, que contribuíram bastante para a obra de Ney como artista. Como mãe, me identifico quando a luta do seu filho é também sua luta. Eu iria contra o mundo se precisasse para fazer minhas filhas felizes.


THALES JUNQUEIRA | DIRETOR DE ARTE

1- Como foi o processo de recriação dos ambientes do Rio de Janeiro dos anos 1970 e 1980 e quais foram as suas referências artísticas e visuais para esse trabalho, além da obra original de Ney Matogrosso?

O cinema de época, de modo geral, tende a reproduzir o passado em cores dessaturadas, como se houvesse uma camada de poeira, como se o passado não fosse o agora em que se passa a história. Com o desejo de fugir dessa abordagem mais cromofóbica e convencional, e considerando que boa parte do filme se passa nos multicoloridos anos 60, 70 e 80, a ideia foi buscar um certo grau de pureza das tonalidades, saturando as cores. Vermelhos, amarelos, azuis, cores vibrantes, vivas: mirar o passado como o agora em que a história se dá. Para isso, o próprio cinema brasileiro realizado nas décadas em que o filme acontece foi uma fonte inesgotável de inspiração e coragem no uso das cores.

2- Na cabeceira da cama de Ney, foi colocado um quadro pintado pelo artista Keith Haring, que também foi vítima da AIDS. Enquanto Ney se apresentava no Festival de Montreux na Suíça em 83, Keith pintava um mural em sua homenagem para presenteá-lo. O quadro, que foi roubado, foi devolvido para Ney em uma licença poética da direção de arte. Por que trazer o quadro de volta para Ney no filme?

Me pareceu interessante resgatar a obra de Keith Haring para o quarto de Ney, para sua intimidade, num momento doloroso de perda de tantos amores para a epidemia da AIDS nos anos 80. Houve um período em que a AlDS não era dita, não estava na agenda. Penso que um dos papéis importantes que Keith Haring desempenhou foi o de encorajar a investigação sobre o vírus e hoje sua iconografia é extremamente simbólica da atuação da comunidade gay na liderança do movimento para combater a disseminação do vírus HIV.

Nenhum comentário